Brasil deve concentrar em 2010 os R$ 25 milhões do dinheiro de cooperação internacional para o Haiti

Brasil deve concentrar em 2010 os R$ 25 milhões do dinheiro de cooperação internacional para o Haiti


Dinheiro que seria aplicado em três anos no país pode passar para apenas um

O Brasil estuda concentrar o orçamento previsto para três anos de cooperação internacional no Haiti, de R$ 25 milhões (US$ 14,7 milhões), todo para 2010, informou ao R7 uma fonte do governo federal. A iniciativa é totalmente separada da ajuda emergencial de R$ 26,6 milhões (US$ 15 milhões) que o Brasil ofereceu ao Haiti devido ao terremoto que devastou o país na última terça-feira (12), da qual R$ 8,8 milhões (US$ 5 milhões) já foram liberados.

O adiantamento ocorre devido à destruição provocada pelo tremor de sete graus na escala Richter pode ter provocado a morte de até 140 mil pessoas. Há localidades no Haiti que tiveram 90% de suas construções destruídas e a ONU (Organização das Nações Unidas) calcula que ao menos 10% das edificações de Porto Príncipe ruíram completamente, no que a organização classificou como a pior tragédia enfrentada em sua história.

O Brasil, que comanda a missão de paz da ONU no país, a Minustah, tem oficialmente confirmada a morte de 14 militares. O país também perdeu a médica Zilda Arns, fundadora da Pastoral da Criança, e o diplomata Luiz Carlos da Costa, que era o número dois da ONU no Haiti.

Como estratégias de cooperação ao desenvolvimento, o Brasil tinha em seu planejamento cerca de 30 iniciativas em 2010 e 2011. Muitos destes programas terão de ser suspensos até por falta da estrutura mais básica para que continuem. O certo é que em dois meses uma missão oficial deve voltar à ilha levando empresários de instituições como Fiocruz, Senai, e Senac para avaliar a continuidade e reformulação dos projetos.


No Brasil, a agência que trabalha com a cooperação internacional, a ABC (Agência Brasileira de Cooperação), já coordenava no Haiti projetos em basicamente quatro áreas: agricultura e segurança alimentar, fortalecimento institucional, formação profissional e meio ambiente. Agora, tudo foi suspenso.

Alguns envolviam o Senai (Serviço Nacional de Aprendizagem Comercial) e o Senac (Serviço Nacional de Aprendizagem Comercial), somavam R$ 12 milhões (US$ 7 milhões) nestes três anos. O Centro de Formação Profissional Haiti Senai custaria R$ 7 milhões (US$ 4 milhões), seria em Varreux, e neste ano começaria a treinar profissionais para a área industrial, sobretudo em mecânica, eletricidade, informática, confecção e construção civil.
O plano da ABC com o Senac era semelhante: montar um centro de formação, mas na área de comércio e serviços, que custaria R$ 5 milhões (US$ 3 milhões) e ficaria na capital, Porto Príncipe.

O poder público do Haiti cedeu os prédios onde os projetos seriam instalados, e as entidades brasileiras deveriam reformar e ocupar.

Mas, se a infraestrutura ameaça alguns projetos, outros gritam por urgência. Os haitianos sempre sofreram por causa da miséria que assola o país, e a destruição causada pelo terremoto só piorou a situação. Nesse cenário, a atuação da Embrapa se torna cada vez mais fundamental; é o órgão brasileiro que, por meio da ABC, coordena os vários programas de agricultura e segurança alimentar.

Os projetos que envolvem a Embrapa somam quase a metade da verba projetada os próximos três anos, e todos tratam de melhorar a produção agrícola usando novas tecnologias. O principal é a construção da sede física do Programa Estratégico Brasil-Haiti nas áreas de Segurança Alimentar e Nutricional avaliado em R$ 9,3 milhões (US$ 5,3 milhões).

Arquiteto estima reconstrução em cerca de cinco anos

A situação no Haiti é tão grave que o professor Reginaldo Nasser, do Departamento de Relações Internacionais da PUC-SP (Pontifícia Universidade Católica), disse ao R7 que o desastre é proporcionalmente pior que o tsunami que atingiu diversos países da Ásia e até da África em 2004. Nasser argumenta que, em termos relativos, o terremoto afetou um número maior de pessoas do a China. Além disso, devido ao Estado fraco, as perdas do Haiti são maiores e a reconstrução será mais demorada.

Até a secretária do Departamento de Estado americana, Hillary Clinton, chegou a comparar a tragédia no Haiti ao tsunami de 2004. Mesmo com sistemas implementados ,alguns lugares como exemplo de recuperação, entre outras boas notícias, o diretor do Centro de Preparação para Desastres na Ásia, Bhichit Rattakul, disse ao R7 que cinco anos após o fenômeno, há áreas que ainda não foram completamente recuperadas.

O arquiteto João Sette Whitaker Ferreira, urbanista e professor da FAU-USP (Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo), que já esteve no Haiti, afirmou que em cinco anos pode haver a reconstrução.

Ele destacou que tal reconstrução seria na situação de antes do terremoto, com muitas plantas precárias. Tais condições e a falta de fiscalização foram questões que a pesquisadora Julia Schünemann apontou como agravantes para que a tragédia no país tomasse tamanha proporção.

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