Definitivamente o que vai ao ar de segunda à sábado às 7 da noite na Rede Globo não é Tempos Modernos. Pelo menos não a novela que eu tanto defendi neste espaço. O que Bosco Brasil – pressionado ou não pela emissora em busca de audiência, pouco importa – fez com uma novela promissora é crime e deveria ser punido.
Tempos Modernos surgiu muito antes de estrear como um sopro de criatividade para as telenovelas de humor brasileiras que há anos caminhavam pelo mesmo marasmo e eternas situações de humor pastelão, entupidas de bordões repetidos a exaustão e que faziam o telespectador rir quase que mecanicamente.
A proposta da novela era interessante, o elenco montado foi muito bom e antes da estréia a expectativa era gigante. Após a estréia, após a primeira semana, após a segunda semana, a expectativa deu lugar a sensação de tiro no alvo. A trama teve em seus 30 primeiros capítulos uma história muito bem desenhada, poucas vezes vista na TV, inovação que todas as telenovelas necessitavam, humor ácido, citações clássicas, tiradas criativas, piadas inteligentes e rápidas. Enfim, todos os ingredientes para torná-la um divisor de águas para o humor brasileiro.
Mas o público rejeitou. Pois é, acontece. Como o telespectador não aceitou boa parte das tramas, não conseguia acompanhar as piadas, não entendia as referências a Literatura e Cinema clássico, surgiu a decisão de mudar para elevar os malditos índices de audiência, como se isso fosse tudo.
E então Bosco Brasil perdeu a mão. Transformou a mais inovadora novela dos últimos 15 anos – levando em consideração o formato para as 6 ou 7 da noite – em uma trama água com açúcar, cheia de clichês, de personagens vazios, de piadas prontas e de bordões ridículos. Não é que a novela tenha ficado ruim ou pior que outras já exibidas, não.
Ela ficou igual. Assistir Tempos Modernos é como assistir mais uma novela da TV brasileira. Não é o folhetim que vinha para inovar o horário, para mostrar a possibilidade de ousar, de mudar e de se produzir produtos de qualidade incontestável. Os números de audiência venceram a inovação.
Uma pena, é bem provável que o Ibope da novela reaja, pois agora ela tem todos os ingredientes que o grande público gosta, mas certamente, isso será responsável pelo engessamento dos autores brasileiros por mais uma porção de anos. Faltou coragem a Bosco Brasil, a coragem que sobrou, por exemplo, a João Emanuel Carneiro que inovou do início ao fim em A Favorita, a coragem que vem sobrando a Duca Rachid e Telma Guedes com uma novela completamente diferente no horário das 6 com Cama de Gato. Bosco Brasil olhou para a tela e entre qualidade e audiência, preferiu a audiência. Pena.
Por: Daniel César - TV x TV