Tarefa complexa, retratar a vida do mais famoso médium brasileiro no cinema oferecia vários caminhos e possibilidades. Preventivamente, o diretor Daniel Filho já se desculpa antes da primeira cena por algumas de suas escolhas: “A história de um homem não cabe num filme. O que se pode é ser fiel à essência de sua trajetória”.
Qual seria a essência da trajetória de Chico Xavier? O espectador que enfrentar os 124 minutos desta produção não encontrará uma resposta muito clara a esta questão. O filme nos sugere que o médium era um homem bondoso, cuja única missão seria ajudar o próximo. Era também vaidoso e, como qualquer ser humano, tinha medo de avião. Nada mais que isso.
“Chico Xavier” abre várias trilhas, oferecendo ao espectador, de relance, visões de como deve ter sido extraordinária a vida do médium. Mas Daniel Filho parece estar mais preocupado em emocionar do que informar. Para quem não conhece bem a doutrina, o espiritismo no filme soa como um exotismo, sem muito sentido. As suspeitas de charlatanismo são tratadas como “intrigas da oposição” e a reação da Igreja é mostrada como caricatura.
Dito desta forma, “Chico Xavier” seria apenas um filme muito bem produzido, com grandes atuações dos três atores que interpretam o médium, mas superficial, destinado a agradar aos fiéis e provocar a curiosidade dos demais.
Mas há algo mais, que chega a causar constrangimento. O filme opta por materializar o espírito que Chico Xavier considerava seu guia. Chama-se Emmanuel. É retratado como um jovem, alto, simpático, sempre vestido com uma túnica clara. Aparece em inúmeras cenas, conversando com o médium, orientando-o, cobrando disciplina e dando instruções.
No fundo, ao fazer esta opção inábil, “Chico Xavier”, o filme, parece temer que o público não seja capaz de compreender a tal essência que se propõe a contar.
Por: Mauricio Stycer