Índia, China e Brasil lideram movimento de inovação reversa e exportam tecnologia a países desenvolvidos

O recente anúncio de que a General Electric pretende instalar no Brasil seu primeiro centro de Pesquisa e Desenvolvimento (P&D) da América Latina _será a quinta unidade de P&D da GE no mundo_ reforça a teoria de que a inovação reversa é uma das novas tendências do processo de criação de novos produtos e serviços. A opinião é do consultor especializado em inovação, Alexis Gonçalves, que identifica um claro movimento de investimentos em novos pólos tecnológicos, como Índia, China e Brasil.
Criado pelo professor da Tuck School of Business, nos Estados Unidos, o indiano Vijay Govindarajan, o conceito de inovação reversa trata das inovações que são criadas e adotadas primeiro nos países emergentes e, só então, levadas para os mercados desenvolvidos.


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Alexis Gonçalves
“As grandes empresas estão finalmente acordando para o fato de que já se foi o tempo em que os países em desenvolvimento limitavam-se a adaptar as novas tecnologias criadas nas matrizes das gigantes multinacionais”, avalia Gonçalves, que cita o exemplo do Nano. Desenvolvido na Índia, o carro teve seu projeto remodelado para entrar no mercado europeu, em movimento contrário ao tradicional.Autor dos livros Innovation Hardwired e Herramientas Avanzadas de Innovación, Gonçalves atuou em empresas como Citigroup, American Express e Accenture, em países da América, Ásia e Europa, sempre na área de consultoria e gestão da inovação. Hoje, ele lidera a implantação do programa de Inovação na área de Tecnologia em Negócios da Pfizer, em Nova York. Leia a entrevista com Alexis Gonçalves.
iG: Qual é sua avaliação sobre o processo de inovação reversa?Gonçalves: No início da globalização, os países desenvolvidos criavam tecnologias e novos processos e, às economias emergentes, cabia apenas realizar pequenas adaptações locais. Mas, cada vez mais, o que se vê é o processo de inovação reversa. Um bom exemplo é o Nano. Desenvolvido na Índia, o projeto foi adaptado pela Tata para o mercado europeu. A GE, que contou por dois anos com a consultoria de Vijay Govindarajan, reconhecidamente um dos maiores experts do mundo em estratégia e inovação, é outra grande companhia que se adiantou a esta tendência.
iG: Mas esse movimento ainda é bastante discreto no Brasil se comparado a países como China e Índia, não?
Gonçalves: Sim, é verdade. Embora esteja mais adiantado que os países da América Latina, o Brasil está muito atrás da Índia e da China, que já entenderam que, sem inovação, não é possível prosperar. A inovação reversa representa uma importante mudança de paradigmas na forma de inovar. É preciso ter uma equipe local de pesquisadores e cientistas extremamente qualificados, com autonomia suficiente para agir.
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Conceito do Nano foi exportado para a Europa
iG: O que falta ao Brasil para acompanhar esses países?
Gonçalves: Diria que são cinco pontos. O primeiro é a proteção à propriedade intelectual. O fomento ao empreendedorismo e o investimento em educação também são fundamentais. Além disso, o Brasil precisa modernizar seu Judiciário. Porém, um dos itens mais importantes seria investir na formação de clusters, de forma a reunir universidades, centros de P&D, investidores e grandes empresas em um único lugar, como o que temos no Vale do Silício.

iG: Outra tendência que vem se fortalecendo no País é o uso de sistemas de inovação aberta, no qual as empresas apostam no que se chama de “inteligência coletiva”, ao contar com a colaboração de clientes para desenvolver novos produtos. Você acredita nesse modelo?Gonçalves: A inovação aberta tem duas vertentes: outbound e inbound. A que está na moda é a inbound, quando uma empresa apresenta o problema ou o desafio e abre espaço para que as pessoas possam resolver ou sugerir soluções para o tema. Neste caso, toda a propriedade intelectual da ideia fica para a empresa. Dois bons exemplos são os sites da Fiat (Mio) e da Dell (Idea Storm).
A que tem menos procura é a outbound, quando alguém desenvolve uma tecnologia ou novo produto e oferece para alguma empresa implementar. Esta vertente é a mais arriscada, porque nesse caso não há controle sobre o sucesso do empreendimento.
iG: Mas, quais são os riscos de expor as necessidades e os desafios da empresa num processo de inovação aberta? Gonçalves: O segredo da inovação inbound é contar com uma capacidade de filtro extremamente eficiente. De forma geral, as companhias têm grande dificuldade em analisar, responder e articular as sugestões dentro de casa. Sem um back-end adequado – pessoas preparadas para receber as idéias, fazer uma triagem e encaminhar para os respectivos responsáveis – todo o projeto pode ser comprometido, afetando inclusive a imagem e a marca da empresa. É preciso contar com uma forte coordenação de comunicação.

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