Na última terça-feira, 1.350 pessoas lotaram o Teatro Municipal de Paulínia, no interior de São Paulo, para assistir à pré-estreia de “Chico Xavier”. Ao fim de duas horas e cinco minutos de filme, uma reação do público chamou a atenção; após os aplausos, comuns neste tipo de sessão, um silêncio respeitoso, que mais parecia o de uma prece, tomou conta da sala. Uma conclusão ficou clara para quem presenciou a cena: o longa, que tem Matheus Costa, Ângelo Antônio e Nelson Xavier na pele do protagonista, vai mexer e emocionar muita gente.
Diferentemente do que alguns podem pensar, o filme sobre o médium não pretende fazer com que as pessoas se convertam ao espiritismo. O que se vê na tela é a trajetória de vida de um homem que sofreu muito na infância, por ser incompreendido, e que depois se dedicou a ajudar os outros até morrer, aos 92 anos. Se as cartas psicografadas por ele eram verdadeiras ou não? Essa é uma resposta que o longa não se preocupa em dar.
— Nossa intenção não foi passar uma mensagem do espiritismo, mas ensinamentos de vida. Era isso que Chico Xavier fazia — diz o diretor Daniel Filho, que não é espírita: — Já fui umbandista, estive na Igreja Católica, mas hoje não sou nada. Mesmo após fazer o filme não mudei minhas convicções. Sou ateu, mas sou um homem de fé.
Quem viu suas certezas ficarem abaladas depois de mergulhar de corpo e alma no filme foi Nelson Xavier.
— Eu sabia da existência de Chico Xavier, mas o ignorava. Até o dia em que Marcel (Souto Maior, autor da obra que inspirou o longa) me deu o livro. Li e fiquei com muita vontade de fazer o filme. A partir daí as emoções foram aumentando até se tornarem uma cachoeira — conta Nelson, que completa: — Eu me considerava ateu, mas hoje não sei. A gente não pode passar incólume por esta experiência. O amor tem que prevalecer.
Para Daniel Filho, a entrega de todos, de protagonistas a figurantes, foi tão grande que refletiu diretamente no resultado final.
— As pessoas iam para o set de filmagens numa entrega total. Os figurantes sentavam com os atores e eles rezavam juntos antes de gravar. Foi uma coisa comovente — diz Daniel: — Teve uma cena que uma senhora começou a incorporar antes de iniciarmos as filmagens. Tivemos que parar tudo e ela se retirou.
Histórias emocionantes como essa também fizeram parte da pré-produção do filme. Como quando uma equipe procurava pelas ruas de Tiradentes por um vira-lata parecido com o que Chico Xavier tinha e eram insistentemente seguidos por outro cachorro de rua. Cansados de procurar e não achar, eles perguntaram para um grupo de pessoas se elas sabiam de quem era e qual o nome daquele cachorro que não parava de os seguir. Até que um homem se apresentou e disse: “O cachorro é meu. Ele se chama Chico”. Não deu outra, o simpático vira-lata foi parar no cinema.
E, como para quem acredita na luz de Chico Xavier nada acontece por acaso, o filme estreia no dia 2 de abril, data que o espírita completaria 100 anos e uma Sexta-feira Santa. Coincidência ou não, as forças do lado de lá parecem estar trabalhando para que o filme seja um sucesso.