
Quando percebi que Bela, a Feia estava sofrendo uma séria mutação, reagi mal. Gostava do clima de comédia rasgada da trama de Gisele Joras e ver que a história estava virando um dramalhão me incomodou demais. Mas, para minha surpresa, o “terremoto de 9 pontos na escala Richter”, que poderia destruir a produção da Record, acabou dando uma bela sacudida, que ajudou a história a entrar nos eixos. O bacana também foi ver que Gisele teve personalidade para implementar as mudanças na trama, sem ofender a versão original. É verdade que ela usou um clichê presente nas novelas desde Selva de Pedra (1972), mas que está funcionando bem. Fazer com que todos pensem que Bela (Giselle Itié) está morta, enquanto a feia, com a ajuda de Vera (Silvia Pfeiffer), prepara uma revanche contra os vilões Verônica (Simone Spoladore), Ricardo (Jonas Bloch) e Adriano (Iran Malfitano), tem funcionado às mil maravilhas. O legal é que a nova fase da novela fez com que Silvia ganhasse finalmente um bom papel na TV. Há muito tempo que ela está relegada a personagens sem vida, mas Vera está lhe restituindo um status que ela tanto merece.
Estou adorando também os “fantasmas” de Bela assombrando Olga (Ângela Leal), que virou uma megera, e o pateta do Nelson (Cláudio Gabriel). Mesmo com todo o momento mais dramático, morri de rir com essas cenas. Outro ponto forte de Bela, a Feia é o núcleo de Samanta (Luiza Tomé). Ela que sempre desprezou o filho pobre, Max (Sérgio Hondjakoff), foi abandonada pelo marido, Armando (Raul Gazzola), e pela filha, Luddy (Marcela Barrozo), e acabou ganhando o apoio justamente do herdeiro que vivia humilhando. Além de render belas sequências para os atores, essa trama ainda resultou em momentos de emoção sincera.

Ainda me divirto muito com a dupla formada por Bárbara Borges e Laila Zaid. Elas estão maravilhosas como as manicuras Elvira e Magdalena e são o alívio cômico da história. A grande decepção de Bela, a Feia é mesmo Cíntia (Carla Regina). A personagem definitivamente não pegou. E hoje, apesar das tentativas da autora de aumentar sua importância na novela, a mimadinha continua sem brilho e impacto. E isso não é culpa de Carla, que faz bonito como a jovem fútil e egoísta. O problema aí é da personagem mesmo, que é chata e desinteressante.

Entre os atores, Giselle Itié e Bruno Ferrari mantêm o bom nível de suas atuações desde o primeiro capítulo. Ela, conseguindo cativar o espectador com a inocência de Bela, e ele se saindo muito bem como o playboy Rodrigo, atormentado por amar uma mulher fora dos seus padrões de beleza. No mais, Jonas Bloch, Denise Del Vecchio, Henrique Pagnoncellis, Ângela Leal, Esther Góes, Cláudio Gabriel, Roberta Gualda e Benvindo Sequeira continuam ótimos em cena, diferente de Simone Spoladore, Iran Malfitano e Thierry Figueira, que alternam momentos satisfatórios, com outros de extrema canastrice. Já André Mattos é a materialização do exagero. Tanto, que chega a me incomodar profundamente.
E entre vales de lágrimas e explosões de gargalhadas, Bela, a Feia assume sua “mexicanização”, que não é demérito nenhum. Muito pelo contrário, só a ajuda a se destacar das outras produções tão enquadradas no jeito brasileiro de fazer novelas. Bela, a Feia segue navegando na briga pela atenção do público com força total, alcançando, inclusive, bons índices de audiência. Que bons ventos a levem…
Por: Jorge Brasil – Revista Contigo